terça-feira, 12 de junho de 2007

Um outro eu


Já faz algum tempo, percebi que as pessoas me olham e vêem um outro que não sou. Não sei se sou eu próprio o criador desta outra face, mas de fato, me dizem coisas que eu mesmo não penso de mim. Confesso. Como todo ser humano faço coisas para receber aprovação. Quem não faz?
Mas estou preso a este outro eu idealizado por mim mesmo e com o aval dos demais. Lembro de Rubem Alves falando: “nomes são gaiolas que prendem pássaros que deveriam voar”. Estou me sentindo preso! Minhas idéias são totalmente obtusas ao círculo transitado por mim. Não acredito nos ritos, nos gritos, nas determinações em nome de Deus para o sucesso. Outro dia fui recomendado por alguém a não falar sobre certos assuntos, porque esta era a postura institucional. Fiquei calado, preso neste outro eu, preocupado com minha reputação. Concordei com tudo, apesar de dentro de mim achar a maior idiotice tudo o que ouvi. Quando estou sozinho, migro como o pequeno príncipe por vários mundos. Alguns muito diferentes aos meus e sonho com como uma realidade diferente, transcendo minha mediocridade, questiono as determinações de Deus e idealizo um mundo melhor. Mas quando entro neste outro mundo - o mundo do “outro” - penso estar possesso de demônios, pois não é essa umas das funções dele, a de despersonalizar? Assim como aquele homem cheio de força, o qual ninguém podia resistir, mas que não tinha vontade própria? Sinto-me possuído de uma força abalizadora que me da poder de atuar e falar, me dá pão e circo e por momentos me recruta para o show. Contudo, neste show não posso criar meu ator. Sou um títere, preso as cordas de um manipulador superior. Estou a ponto de romper com este outro eu, não o do espelho, companheiro eterno na terra, mas com este que me deixei possuir às vezes sem notar, e hoje me encarcera em sepulcros de Deus. Peço a Deus, o libertador, e aos meus amigos que me ajudem somente a ser eu mesmo, livre para voar.

4 comentários:

rafael disse...

Olá Fábio
Seu texto fez-me lembrar de um conto do Machado de Assis, "O Espelho". Nele, Machado diz que a criatura humana possui duas almas: uma que olha de dentro para fora, e outra de fora para dentro. A primeira refere-se aos nossos olhos; a segunda ao olhar dos outros. Precisamos das ambas para viver, pois as duas nos completam. Quando perdemos uma das metades, perdemos naturalmente metade da existência. Ainda acontece em alguns casos, no qual perder a alma exterior implica em perder a existência inteira. Por isso a importância de não se deixar levar apenas pelos olhos exteriores.

Para mim, aqui está a grande dificuldade de saber quem somos, pois estamos perpassados por esses dois olhares. Eis o nosso grande desafio: conciliar as duas almas de forma a nos tornar pessoas autênticas...

Abraços

Fábio Balduino disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Miguel Angel Faúndez disse...

Hola Fabio

Felicitaciones por tu Blog. Te recuerdo con mucho cariño, espero verte pronto.

Un abrazo fuerte desde Santiago de Chile

Miguel Angel Faundez

Unknown disse...

Mozão vc é de mais, te admiro muitooooo...meu orgulho...escreve pra carambaaaa ...te amo